
“(...)Em seu teísmo, Gödel critica tanto os filósofos, aos quais censura por sua simpatia com o espírito do tempo, quanto as instituições religiosas: “Nos nossos dias, a maioria dos filósofos pensa que sua missão está em expulsar a religião dos espíritos, e age assim da mesma maneira que as piores igrejas.(...)Eu creio que há muito mais razão na religião – mas não nas instituições religiosas – do que em geral se costuma acreditar. (...) Por exemplo, segundo o dogma católico, o Deus pleno de bondade teria criado a maior parte da humanidade – ou seja, à exceção dos bons católicos – com o único propósito de enviá-la ao inferno por toda a eternidade”.
O interesse de Gödel pela prova ontológica de Deus não é, de modo algum, uma manifestação de sua velhice: já em 1940 ele havia discutido com Carnap a possibilidade de uma teologia racional, com o objetivo de uma clarificação estrita para conceitos como “Deus”, “alma” ou “idéia”. Ao procurar uma prova puramente lógica para a existência de Deus, Gödel aborda uma questão que o preocupou durante toda a vida: como organizar a realidade em uma imagem racional geral? Uma carta a sua mãe, de 23 de julho de 1961, é instrutiva esse respeito: “(...)existe alguma razão para supor que o mundo seja organizado de maneira racional? Eu creio que sim, pois ele não é absolutamente nem caótico, nem arbitrário, mas ao contrário, reina nele por toda parte, como o mostra a ciência, uma grande regularidade e uma grande ordem. No entanto, a ordem é uma forma de razão. Como seria possível imaginar diferentemente? (...)”[Gianbruno Guerrerio, “Gödel, um tímido iconoclasta”em Scientific American Brasil: Gênios da Ciência 12. A vanguarda matemática e os limites da razão, p.66]
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